sábado, 16 de julho de 2016

Por onde anda: goleiro Renato Valle


Ex-goleiro Renato Valle hoje mora em Uberlândia



Ele pulava de um lado para o outro fechando o gol de times como Flamengo, Fluminense, Atlético-MG e Uberlândia Esporte Clube nas décadas de 1960 a 1980. Hoje, vai de um lado para o outro trabalhando no Instituto de Previdência Municipal de Uberlândia (Ipremu) como prestador de serviço. O ex-goleiro Renato Valle começou a carreira no Flamengo e passou por vários outros times e chegou a defender a Seleção Brasileira, em 1973.

O último jogo em time profissional foi em 1983 pelo Al Khaleej, nos Emirados Árabes. Mas antes de Renato morar de vez no interior de Minas, ficou por oito anos em Belo Horizonte, onde administrava uma padaria, no bairro Santa Inês.

– Foi um período muito bom. Nessa época, fiquei mais quieto e ninguém me conhecia. As pessoas iam à padaria pelo tratamento e qualidade dos serviços oferecidos. Atendíamos todos os clientes pelo nome. Só depois de cinco anos, um repórter que estava na padaria me reconheceu, daí começou a chover de gente da imprensa esportiva e de torcedores do Galo – contou o ex-goleiro.

Renato nasceu no Rio de Janeiro, no dia 5 de dezembro de 1944 e aos 67 anos, o ex-goleiro diz não ter aquela saudade que machuca ao lembrar-se do passado. Avalia tudo como mais uma etapa da vida.

– Não fico remoendo o que passou, tenho uma saudade gostosa e vivo o meu presente. O que passou, passou – disse.

Apesar disso, além da coleção de camisas de todos os clubes que jogou, o apartamento em que mora, na região central de Uberlânida, é decorado com fotos, medalhas, homenagens ao ex-goleiro e até times de futebol de botão, relembrando os clubes por onde passou.

Renato Valle tem apartamento decorado com fotos, troféus, medalhas e homenagens

Em 1998, Renato veio à Uberlândia para a entrega de medalha de Mérito Desportivo, com seu nome, na Câmara Municipal da cidade. Na época recebeu um convite para assumir a coordenação esportiva da Fundação Uberlandense de Turismo Esporte e Lazer (Futel). Desde então, não foi mais embora da cidade.

– Sair dos campos e trabalhar nessa área administrativa e até com política, deu para ganhar muita experiência e tirar lições de vida. A gente lida com pessoas de todo tipo, então aprendi a ser mais seletivo com quem se aproximava de mim – revelou.

A paixão pelo futebol começou aos nove anos, quando foi com o pai assistir a jogos no Rio de Janeiro. Mas engana-se quem acha que eram apenas partidas do Flamengo. Depois da primeira que assistiu, tomou gosto pelo esporte e começaram a frequentar até a Segunda Divisão. Três anos depois, em um jogo do time do coração, Renato disse ao pai que um dia seria goleiro do Flamengo e que também jogaria na Seleção.

– Eu me lembro de ter prestado muita atenção no goleiro argentino Roma. A atenção foi tanta, que não recordo do placar e nem do jogo. Apenas de ver a atuação do goleiro e pensar: quero ser igual a ele – contou.

Carreira

Mas por pouco o sonho foi por água abaixo. Aos 19 anos, Renato jogava futebol na praia com os amigos e, com 1,8m , ficava apenas na linha devido as habilidades que tinha.

– Eu cabeceava muito bem e fazia jogadas com as duas pernas, por isso não me deixavam ficar no gol, que era o que eu queria. Tive que ir para outro ponto da praia, jogar com outras pessoas que me deixassem ficar no gol. Deu certo, e quando voltei para o ponto antigo, a vaga do gol foi garantida – lembrou. 

Desde criança, Renato queria ser goleiro
Resultado que garantiu também o convite, em 1964, do Bria Modesto, na época auxiliar do técnico Walter Miraglia, para ser jogador do Flamengo. Renato ainda era da base quando pisou no gramado pelo Campeonato Carioca. Na ocasião, o Flamengo jogava contra o Madureira e perdia por 1 a 0.

– Na volta do segundo tempo o técnico tirou o Miranda, que tinha 1,85m, e era maior um pouco que eu. Ficamos sem entender, porque é difícil um técnico substituir o goleiro, mas mesmo assim eu fui e conseguimos fechar o jogo em 3 x1 – disse.

Mas antes de estrear no time profissional do Flamengo, Renato foi emprestado para o Entrerriense (RJ) e Taubaté (SP).

A carreira em Minas Gerais

Em 1967, Renato voltou ao Flamengo no time profissional, mas ficou por pouco tempo. Após um amistoso contra a equipe do Uberlândia Esporte Clube (UEC), o goleiro foi convidado a jogar na equipe mineira, onde atuou em 1968. Quarenta e quatro anos depois e morando em Uberlândia, o ex-goleiro tem experiência de sobra para falar da equipe mineira.

– Naquela época a diretoria e o time tinham credibilidade. Eram conhecidos no cenário esportivo e tinham dinheiro para contratar bons jogadores. Hoje, o time é temporário. Os jogadores são descartáveis e não se preocupam em montar e dar sequência com a base – avaliou.

A experiência em Minas Gerais não parou por aí. A passagem pelo Uberlândia Esporte foi só o começo de uma sequência de títulos na carreira. No início da década de 1970, Renato foi convidado pelo técnico do Atlético-MG, Telê Santana, a fazer parte da equipe. Jogando pelo Galo, o goleiro sagrou-se campeão pela primeira vez em um clube. Levantou a taça de campeão Mineiro em 1970 e Brasileiro em 1971, primeiro e único título nacional do Atlético-MG. Renato ficou por 18 meses no Galo, tempo suficiente para se tornar o xodó da torcida.

Renato guarda a faixa de campeão
com o Atlético Mineiro
Em julho de 2011, recebeu em Uberlândia o título de Cidadão Honorário e também uma placa da diretoria do Atlético-MG parabenizando-o pela homenagem. Mas a passagem pelo time mineiro rendeu muito mais.

Quando deixou o Galo, Renato ganhou de uma fã um livro com todas as reportagens da época em que jogou no clube catalogadas em um volume intitulado ‘Renato em Preto e Branco’. Além disso, no ano do centenário, recebeu uma camisa comemorativa e personalizada.

A visibilidade que Renato teve com o título no Atlético-MG rendeu novamente o retorno ao clube em que iniciou sua carreira: o Flamengo, onde permaneceu de 1972 a 1975. A experiência que adquiriu nos clubes anteriores, contribuiu para uma excelente atuação durante a nova temporada na Gávea.

– Fiquei muito satisfeito em voltar, estava bem mais experiente e o Flamengo era comandado por Zagallo. Fiz um Fla-Flu inesquecível, com placar de 5 a 2. Acreditamos em tudo o que o técnico pediu para fazermos e deu certo – contou.

Namoro com o Flamengo terminou em 1975, depois de três passagens
pelo clube
Depois de conquistar o Campeonato Carioca em 1972 e 1974 e a Taça Guanabara também em 1972 e 1973, o namoro com o Flamengo acabou de vez dois anos depois.

– A diretoria estava cortando alguns jogadores com altos salários e dando oportunidade aos jogadores mais novos. A gota d´agua foi em um Fla-Flu, onde nós perdemos por 3 a 0. Ninguém fazia nada, eu tentei ajudar e sobrou pra mim – contou.

Com isso, Renato saiu da Gávea e foi para o Tricolor das Laranjeiras, onde permaneceu de 1976 a 1979. No clube rival do Flamengo, deixou a marca dele e, novamente, levantou a taça de Campeão Carioca no ano em que chegou.

Depois disso, Renato foi respirar novos ares. Jogando no Rio há muito tempo, negociou uma boa proposta e foi para o Bahia. Atuou na equipe de 1979 a 1982. E a presença do goleiro na equipe não foi diferente dos outros clubes em que jogou. Nos três anos contribuiu com as vitórias do campeonato estadual em 1979, 1981 e 1982.

– Tenho uma lembrança muito boa desse período. Em um amistoso contra o Flamengo, a torcida rubro-negra estava atrás do meu gol e gritava o meu nome mesmo eu jogando no Bahia. Isso foi um reconhecimento muito grande que recebi – relembrou o ex-goleiro.

Após 18 anos jogando no Brasil, a vida de Renato Valle teve mais uma mudança e desta vez foi radical. Renato foi para os Emirados Árabes. Por dois anos atuou como goleiro no Al Khaleej, onde encerrou a carreira, em 1983.

Mesmo assim, Renato não saiu dos campos de uma vez. Aposentado como jogador no fim da década de 1980, ainda trabalhou como preparador de goleiro no Vasco da Gama e na Arábia Saudita com Parreira.

Seleção Brasileira 

Renato Valle ainda tem no currículo duas experiências na Seleção Brasileira. Em 1973, quando atuava no Flamengo, participou de uma excursão nos jogos contra a Áustria e a Argélia. Em 1974, foi o primeiro goleiro reserva de Emerson Leão na Copa do Mundo da Alemanha. 

Renato ainda guarda a camisa quando atuou pela seleção
– Não precisei entrar em campo, mas só de estar lá foi a melhor experiência que tive na minha vida. Lembrei do que disse ao meu pai, quando pequeno, de que ele iria me ver na Seleção um dia – lembrou.

A participação no time verde-amarelo foi há 38 anos, mas para Renato pouca coisa mudou, principalmente quando se trata de convocação.

– O futebol hoje é diferente, pois envolve mais dinheiro do que gosto pelo esporte e cultua-se muito a figura do empresário, que não era comum na minha época. O Mano Menezes perdeu muito a credibilidade, pelo menos comigo, era uma pessoa quando dirigia o Grêmio e se tornou outra à frente da Seleção. Além de fazer convocações sem sentido – finalizou.

Fonte: Globo Esporte.Com
Fotos: Arquivo Pessoal Renato Valle e Hismênia Keller

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