sábado, 8 de outubro de 2011

1939: Benedito Valadares salvou o UEC

Benedito Valadares (interventor e governador de Minas Gerais)

O Interventor Benedito Valadares visitaria Uberaba para qualquer providência política e aproveitaria da oportunidade para incrementar o seu populismo dando o pontapé inicial numa partida de futebol entre o Uberlândia Esporte Clube e o "tranca-rua vermelhinho", o Uberaba Sport Club, o bicho-papão do Triângulo.

Era 1939.

Os dois times inquietos, formados em campo, e nada do Interventor aparecer. O pessoal do Uberaba Sport estava com uma "fome" danada de "Uberabinha" Esporte, espumando-se de vontade de vingar-se das três refregas consecutivas levadas aqui, em Juca Ribeiro, em 1935.

Aquela espera infinita ia espicaçando os nervos dos vermelhinhos. Até que o juiz, cansado também de esperar, entendeu que o Governador não viria mesmo e começou o jogo.

Uberaba tinha preparado tudo para a surra vingativa. A começar pelas bombinhas que deixavam o goleiro Nagato como peru em cima de chapa quente ao estourarem sobre seus pés.

Os jogadores de defesa não sabiam se iam na bola ou se saiam dos traques.

Além disso, os atletas uberabenses estavam feras em campo. O juiz dava lá sua mãozinha sem muito escrúpulo. De repente, numa jogada mais dura do Turquinho em cima do ponta Juca Pato, o esquentado atleta vermelhinho, a peleja virou briga. Juca Pato, encrenqueiro, aproveitando-se da situação, meteu violentamente a mão na cara do nosso atleta, deixando a marca dos cinco dedos. Turquinho não engoliu a afronta e partiu para o revide. A torcida uberabense não esperou nova oportunidade, saltou a grade e veio para cima dos atletas uberlandenses.

O Uberlândia Esporte que, logo nos primeiros momentos do jogo, conformara-se com uma possível derrota enfiada sob violência goela abaixo, conseguia manter o empate original, mas, diante da população aos gritos avançando sobre os atletas, não teve dúvida: não apanhava na bola, mas apanharia no tapa.

Foi quando alguém gritou lá de fora: "O Benedito Valadares chegou!"

A bagunça foi suspensa. Arrumou-se tudo direitinho como se não estivesse acontecendo nada, o Interventor fez a sua parte e foi-se embora.

O jogo teve reinício, mas a turma do Uberlândia Esporte estava constrangida, medrosa, e prosseguiu um tanto desesperada, doida para que o jogo chegasse logo ao fim. Apanhou de três a zero, resultado ainda longe dos vergonhosos 5 a 0 impostos em 1935 ao Uberaba Sport.

A pressão foi inesquecível. Para se ter ideia do quanto o Uberlândia Esporte foi espoliado basta descrever um dos gols: um lançamento à distância alcançaria o extrema Juca Pato colocado logo atrás do lateral Ramiro Pedrosa em condições regulares. Ramiro, percebendo que não alcançaria a bola, saltou mesmo assim e disfarçadamente tocou-a com a mão desviando o seu trajeto. O juiz viu e apitou: pênalti? Não, gol. Ele deu gol direto sem exigir a cobrança da penalidade.

Quem pode ganhar assim?

Texto de Antônio Pereira da Silva, na obra "As histórias de Uberlândia - Volume I", páginas 63 a 66.

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