segunda-feira, 26 de setembro de 2011

CANAL UEC entrevistou Flávio Gomes, jornalista dos canais ESPN


O CANAL UEC, através do colaborador Welison Silva, entrevistou Flávio Gomes, jornalista da ESPN Brasil. Confiram esta interessante entrevista:

CANAL UEC: Breve relato sobre o Flavio Gomes, torcedor fanatico da Portuguesa certo? 

FLAVIO: Biografia, é isso? Bem, sou jornalista desde 1982, a maior parte do tempo trabalhando com esporte, principalmente Fórmula 1. Adoro a Portuguesa. Não gosto tanto assim de futebol. Gosto muito mais da Portuguesa do que de futebol, na verdade. Rato de estádio desde 1971, quando meu pai me levou ao Pacaembu pela primeira vez para ver Portuguesa x Palmeiras. Saí do estádio torcendo para a Lusa. 

CANAL UEC: Ja vi em seus comentarios na ESPN BRASIL, que você gosta mais do futebol dos times pequenos, não digo do estilo mas do comprometimento mesmo. Porque? 

FLAVIO: Porque a essência do futebol está nos times menores, aqueles pelos quais os torcedores se apaixonam sem pedir nada em troca. O exemplo mais puro de amor incondicional por algo que na maior parte do tempo só te dá tristezas. Mas as pequenas e raras alegrias acabam se transformando em momentos inesquecíveis. Torcer para um time dito pequeno é exercitar a capacidade de aceitar derrotas, lidar com elas. É uma lição de vida. 

CANAL UEC: Você é a favor dos Estaduais ou gostava mais dos Regionais? 

FLAVIO: Estaduais. Acho que eles poderiam ser mais bem tratados, para estimular as rivalidades locais. Aquela coisa de o rio da minha aldeia ser mais belo que o Tejo, porque fica na minha aldeia. Detesto a globalização, e o futebol tem sido vítima dela. Ver gente na Paraíba comprando camiseta do Chelsea e não encontrar uma do Auto Esporte para vender é uma tristeza. 

CANAL UEC: O que você acha destes times de empresarios? Tem como Evitar isso? 

FLAVIO: Acho desprezíveis. Evitar, não sei. Espero que todos vão à falência.

CANAL UEC: Não sei se você conhece Uberlândia, mas como explicar uma cidade do porte de Uberlândia, a segunda maior de Minas Gerais e segunda cidade do Interior do Brasil, perdendo apenas para Campinas, não ter time de futebol na primeira do Estado? 

FLAVIO: A morte dos estaduais explica isso. Algum gênio determina que em Minas só Cruzeiro e Atlético são importantes, e assim o futebol do interior vai morrendo. O mesmo acontece em outros Estados. A mídia dita essa tendência. 

CANAL UEC: Existe respeito dos times grandes para com os pequenos? 

FLAVIO: Talvez por parte dos jogadores que já passaram pelos times menores. Mas a cada dia o que se nota é uma certa arrogância dos grandes, que acham que são a única coisa que importa no futebol. Isso se nota entre dirigentes e torcedores, principalmente. A nova geração de torcedores, esses que só veem futebol pela TV e nunca foram a um estádio na vida: os bundões da bola. 

CANAL UEC: O que é time grande para você? 

FLAVIO: É time que tem história, tradição e torcedores de verdade. Caguei para os títulos. 

CANAL UEC: Se time grande ja tem garantia de bom publico em jogos chamados grandes , pq o interesse em titulos. Você acredita que dirigente se preocupa mesmo com isso? 

FLAVIO: Não é verdade. Os maiores públicos do Brasil hoje são do Santa Cruz, do Fortaleza, do Paysandu. Dirigente se preocupa com ele mesmo, com vaidade, com a imagem na TV. 

CANAL UEC: Qual o principal responsável pela grande diferença entre os times grandes e pequenos? 

FLAVIO: Hoje, a TV empurra os menores cada vez mais para baixo. Enche os chamados grandes de grana e acha que isso vai resolver o futebol brasileiro. Os dirigentes são subservientes à TV, a CBF não faz nada pelo futebol, o futuro é sombrio. 

CANAL UEC: O que Você acha da lei Pelé ? 

FLAVIO: Se os clubes forem inteligentes, conseguirão driblar o fim do passe. Basta fazer bons contratos com seus atletas e evitar que empresários tomem conta deles. 

CANAL UEC: Caso ache a lei Pelé deficitaria, o que pode ser feito para melhora-la ? 

FLAVIO: Não tenho conhecimento jurídico e técnico para responder a essa questão. Mas não acho que a Lei Pelé é responsável pelas dificuldades dos pequenos. Os responsáveis são os dirigentes de federações, CBF e TV Globo, a dona do futebol brasileiro. 

CANAL UEC: Qual parcela de responsabilidade tem os dirigentes na falêcia do futebol do interior? 

FLAVIO: Eles elegem os presidentes de federações, que elegem o presidente da CBF, que vende o futebol à Globo. Toda, portanto. 

CANAL UEC: Mudando um pouco de assunto, o Brasil ainda é o Pais do futebol? Temos revelado tanta gente assim? 

FLAVIO: Joga-se um bom futebol no Brasil. Mas vejo, hoje, um futebol muito mais apaixonado e divertido para quem realmente gosta, o torcedor. E esse futebol é o da Alemanha. 

CANAL UEC: O que se faz um jogador se tornar um craque? 

FLÁVIO: Talento e cabeça. 

CANAL UEC: Existe zagueiro craque? Ou isso é apenas para meio campo e ataque? 

FLAVIO: Claro que existe. Dá para citar dezenas deles. Luís Pereira, Oscar, Luisinho, Dario Pereyra... 

CANAL UEC: Para finalizar, Copa do mundo é um evento para o povo? 

FLAVIO: No estádio, não. Vai ser, como nas últimas, para uma elite que pode pagar ingressos carísimos. Mas os povos, em geral, curtem uma Copa do Mundo. É mais um festival do que qualquer outra coisa. 

CANAL UEC: Em uma palavra, o que você acha do Ricardo Teixeira? 

FLAVIO: Um gângster. 

CANAL UEC: Espaço para suas considerações finais: 

FLÁVIO:  Apenas reproduzam o que escrevi no meu blog no dia 18 de abril deste ano, quando a Portuguesa se classificou para as quartas de final do Paulistão. 

"SÃO PAULO (alguns jamais entenderão) - Aí, aos 44 do segundo tempo, o rapaz de nome Ananias fez o gol, e meus moleques pulam como nunca, gritam como nunca, abraçam o pai e os desconhecidos na arquibancada, e têm o diazinho mais feliz de suas vidas. 

Aí eu abro os jornais no dia seguinte, e ouço as rádios e as TVs, e leio e ouço e vejo que esse campeonato não vale nada, que os grandes estão cheios de tédio, que isso tudo acabe logo para começar o que importa, o que vale. 


E então percebo que estão, estamos, talvez, totalmente descolados da realidade. Como assim, não vale nada? 

Vou contar uma historinha. 

Meus meninos têm 12 e 11 anos. Vão aos jogos do seu time desde quando não conseguiam andar direito e eu tinha de carregar cada um num braço, e subir os degraus até lá no alto, porque eles gostavam de ver aquele campo enorme, um mundo novo e verde estava se revelando, com onze de cada lado, e uma porção de gente assistindo, e gritando, e xingando. Aprenderam a assistir, a gritar, a xingar, a cantar, aprenderam as regras sozinhos, tomaram posse daquele mundo que, no começo, era apenas uma imensidão verde que se via lá do alto, do último degrau. 

Ontem, na arquibancada quente, de cimento, havia dezenas, centenas de garotinhos como eles. E eu vi seus olhinhos brilhando. Eu ouvi do meu mais novo, já no carro, voltando para casa, que ontem ele ia dormir mais leve. 

E vêm os escribas e os locutores do alto de seus púlpitos e de sua pequenofobia para afirmar que não, isso não vale nada. 

É uma espécie de bullying, uma crueldade talvez involuntária, mas ainda assim uma crueldade. 

Que direito tem alguém de ir aos jornais ou à TV e dizer para uma criança de 11 ou 12 anos que sua alegria, sua felicidade, não vale nada? Quem foi que nos deu, a nós jornalistas esportivos, essa prerrogativa divina e sacra de dizer a uma criança qual o tipo de coisa pela qual vale a pena ficar feliz e chorar de alegria? 

Eu vi os olhinhos dos meus meninos brilhando. Discretamente, um deles até enxugou algumas lágrimas. Eu até chorei, pai, disse no carro, e o outro disse que não chorou, mas quase. 

Elas, essas lágrimas, valem muito. Mais do que todos os reais versus barcelonas desta e das próximas semanas, e de todos os que ainda hão de acontecer até o fim dos tempos. 

Elas valem mais do que as cifras repletas de zeros que os jornais e as TVs brandem quando tratam do preço de um ganso, ou do valor de uma arena (arena?), ou dos direitos de transmissão. 

Sobram números frios aos meus colegas, mas falta a eles o calor de uma arquibancada de cimento duro num domingo de sol. Falta a eles, e tem faltado a muita gente, olhar nos olhos de uma criança quando ela vê o goleiro do seu time subir no alambrado para olhar nos seus olhinhos. Falta ver de perto um garotinho arrancar a camisa suada e abraçar o pai com a cabecinha colada no peito junto ao distintivo. 

Ninguém tem o direito de dizer que isso não vale nada. Ninguém tem o direito de dizer a uma criança que sua felicidade não vale nada, só porque ela eclodiu de repente num estádio antigo num torneio menor, e não diante de uma tela de LCD, com transmissão em HD, numa arena climatizada igualzinha às dos videogames. 

A vida real, o futebol de verdade, não está num playstation, nem pode ser visto em HD. Na vida real, os olhinhos das crianças brilham no cimento duro da arquibancada quando seu time faz um gol, e dizer que aquele gol não vale nada é coisa de quem não está entendendo mais nada."

Acompanhem Flávio Gomes também em seu blog : http://colunistas.ig.com.br/flaviogomes/

9 comentários:

  1. SENSACIONAL! Falou tudo o que eu sempre quis àqueles que me criticam pelo simples fato de torcer para o U.E.C. Parabéns pela entrevista.

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  2. DEMAIS...GRANDE ENTREVISTA DO BLOG. PARABÉNS... ESTE CARA É FERA..ACOMPANHO ELE E GOSTO MUITO DE SEUS COMENTÁRIOS...

    TENTEM AGORA COM O PVC...O MAIOR ESTUDIOSO DO FUTEBOL MUNDIAL...

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  3. Flávio Gomes foi preciso, ao fazer seu diagnóstico sobre o futebol brasileiro, e primoroso ao falar de sua paixão pela Lusa. Ele tocou fundo num sentimento que desaparece hoje - o amor pelos clubes que não estão em evidência na mídia e nem têm sua história repleta de conquistas. Torcer para um time pequeno tem a ver com as origens do futebol. Nada se compara às minhas alegrias de ter visto meu time campeão do módulo II em 1999 e da taça Minas em 2003. A emoção de estar no estádio no jogo contra o União Luziense foi indescritível. Por outro lado, muito me entristece ver gente desfilando pelas ruas da cidade com camisa de Flamengo, Vasco,São Paulo Corinthians e outros tantos times que não têm a ver com nossa história.

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  4. Boa entrevista, dessa vez concordei com tudo que disse o nanico aí. Viva o Dão!!!!!

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  5. Bela entrevista, parabéns pela iniciativa!

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  6. Bela entrevista... Eu como atleticano sei bem o que é ter a paixão pelo seu time acima de tudo, já que nasci durante o periódo de decadência do meu time (1988.. a partir da decada de 90 o atletico vem só despencando).

    Só quem vai ao estádio, torra debaixo do sol escaldante de um jogo domingo as 4 da tarde, come churrasquinho de gato na porta e come um tropeiro lá dentro, já viveu o futebol de verdade!

    Força ao UEC!

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  7. Viva o UEC, bem como o Uberaba, Nacional, vila Nova´, Atlético Mineiro e demais times pequenos de Minas. Que eles cresçam e voltem a ser quem já foram. Paulo C.B.Cast.

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  8. Sou torcedor do América-mg e achei o texto sensacional! Parabéns para o blog e para o jornalista. Vida longa aos pequenos.

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  9. Como sempre, muito boa a entrevista do Flavio Gomes. Ainda mais hoje, com a Lusa líder e quase voltando à elite. Isso aí, pessoal do UEC, nunca se envergonhem de torcer pelo seu time do coração!!!
    PS: "virou" o meu time em Minas!!!

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