sexta-feira, 5 de agosto de 2011

1947 - Padrão-técnico e apitadores de treinos


"Centro esportivo de grande projeção no cenário esportivo dopaís, Uberlândia não pode e não deve ficar na situação em que se encontra, possuindo todas as possibilidades de manter seus quadros de futebol com uma orientação técnica mais segura, positiva e que dê ao público que paga para assistir um bom espetáculo, essa satisfação.

Não é que os clubes integrados da L.U.F. e que disputam o Campeonato da cidade não tenham valores em suas fileiras. Há, por exemplo, no Floresta e no Mogiana, elementos aproveitáveis em primeira plana, assim como no Tropeiro, Juventus e Fluminense. O que não há é uma compreensão melhor da situação técnica e esforço diferente em colaboração conjunta para que ao menos um padrão de jogo bonito, intuitivo, demonstrativo da inteligência em campo. Nada mais bonito que, por significante que seja o jogo, este agrade aos assistentes, mesmo porque, de futebol pouco espetacular, barato e preguiçoso, já está cansado o público pagante de Uberlândia e outros centros esportivos.

O padrão de jogo em Uberlândia não existe, pois sendo padrão, sempre é uma coisa que tem uma marca melhor. E a marca do jogo neste terra é muito inferior, cabendo culpa a isso, não os jogadores, mas sim os técnicos e apitadores de treinos, havendo uma diferença enorme entre o sentido das duas palavras: técnicos e apitadores, pois a perfeição de um está longe da insignificância do outro.

Há técnicos inteligentes, estudiosos, viajados e atualizados e sempre um quadro de futebol nas mãos destes, tem de forçosamente melhorar e adquirir cartaz. Há técnicos usando abusivamente deste título que pertence a uma árdua e ingrata profissão, que não passam de meros apitadores de treinos e em todos os clubes que entram, vai tudo por água abaixo, mesmo que seu antecessor tenha deixado o quadro de futebol preparado e ajustado, jogando um bom futebol e com padrão de jogo apreciável.

Outros culpados, pela inferioridade do futebol em Uberlândia, são os próprios dirigentes maiorais dos clubes, que entregam a um qualquer o cargo de treinador. Remunerado ou não, o cargo não é para brincadeiras, pois a responsabilidade é grande e a irresponsabilidade causa grandes falhas, sendo sempre criticado o seu futebol e sua orientação, como cabe no momento a presente crítica, neste crônica sem cores e simpatias.

Quem às vezes fizer de técnico em um clube, não deve relaxar suas obrigações. Marcar treinos sob treinos. Orientar os times em campo exigindo do jogador o máximo de esforço, não só físico, mas, primordialmente, da inteligência. Essa inteligência que é tudo no futebol e tudo é em qualquer ramo de atividade. Usando de uma linguagem mais áspera, posso afirmar que um quadro de futebol, integrados em sua maioria por jogadores "burros", analfabetos e que não possuem o dom da inteligência, nunca pode ir para a frente e seu progresso técnico é lento e retardado, até que se cubram as falhas existentes com as substituições necessárias.

O técnico, para treinar um jogador em qualquer circunstância, deve estudá-lo primeiro. Verificar se o jogador possui o dom da inteligência, tirando a conclusão disso, nas respostas das perguntas que fizer ao mesmo. Depois, sendo bem sucedido, mandá-lo para o terreno da prática e ver se o jogador tem a intuição de jogar com os dois pés. Se possue salto convincente aos cortes de cabeçadas e se seu físico é adaptável à posição qu eo jogador diz que "joga".

Observado tudo isso, aí então o técnico tirará suas conclusões e se o jogador tiver nota 10 em todas essas observações, cabe por último ao técnico saber do estado de saúde e da educação do jogador, pois se ele for um elemento doente, sem a necessária educação, deverá ser dispensado, porque para um doente há remédios e cura, mas para um mal educado e indisciplinado, não. Cêrca sim !

Outro papel interessante do técnico, além do espírito otimista que deve possuir, é não descansar. Mesmo em campo deve correr atrás das jogadas. Apitar os erros, corrigir mandando fazer a jogada certa. Uma saída de jogo mal feita, fazer repetir 3, 5, 10 ou mais vezes até acertar, assim num escanteio mal batido. Ensinar em campo regras do futebol e quando marcar uma falta, chamar a tenção de todos e explicar porque apitou a falta e porque é falta mesmo. Não deixar os treinos descambar para a violência nas jogadas.

Os treinador que esta crônica ler, se pertencerem a outros centros esportivos e se são treinador técnicos de fato, hão de me dar razão e me felicitarão. Os de Uberlândia, tenho certeza, hão de se magoar com a dureza das palavras, mas eu a eles antecipo o meu pedido de perdão pela necessidade de dizer a verdade, mesmo porque, pode ou deve existir na cidade muitos treinadores bons, de fato, que não estão em atividade naturalmente por um complexo em falhas administrativas dos clubes e não querem aparecer.

Ser técnico é uma coisa. Apitadores de treinos é outra. E procurando a melhoria do padrão técnico do futebol de Uberlândia, devo apontar em primeiro lugar a atual diretoria do Uberlândia E.C. que, não medindo sacrifícios pessoais e financeiros, não só importou um técnico que é este modesto e humilde servidor à disposição de todos os esportistas da terra, como jogadores de diferente técnica e ainda mais, numa alta compreensão, essa mesma diretoria vem dando carta branca para que o técnico do Uberlândia E.E. faça treinar também no estádio Juca Ribeiro os outros clubes da cidade, no sentido único de melhorar o modo de jogar e que ao menos um padrão de jogo seja apresentado.

E isso deu resultado e esse resultado obteve o Mogiana E.C., o clube que mais vem treinando com os titulares do Uberlândia E.C. quando domingo último abateu o Flamengo por 6 a 0.

Continuem pois a se apresentar em "Juca Ribeiro". E, garanto, com certeza, que dentro de pouco tempo, talvez 6 meses, não necessitaremos mais de importar jogadores e se a atual importação foi feita é porque ela foi muito necessária."

Texto do jornal "Tribuna Esportiva", de 16 de Agosto de 1947, página 12. O texto foi escrito pelo então técnico da época: J. Hummel Guimarães.

A jornal foi obtido graças à ajuda do radislista Marco Franco Rocha (rádio Vitoriosa 1390 AM)

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