quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Futebol de rua


Pelada é o futebol de campinho, de terreno baldio. Mas existe um tipo de futebol ainda mais  rudimentar do que a pelada. É o futebol de  rua. Perto do futebol de rua qualquer pelada é luxo e qualquer terreno baldio é o  Maracanã em jogo noturno. Se você é homem, brasileiro e criado em cidade, sabe do que eu estou falando. Futebol de rua é tão humilde que chama pelada de senhora.

Não sei se alguém, algum dia, por farra ou nostalgia, botou num papel as regras do futebol de rua. Elas seriam mais ou menos assim:

DA BOLA  

A bola pode ser qualquer coisa remotamente esférica. Até uma bola de futebol  serve. No desespero, usa-se qualquer  coisa que role, como uma pedra,  uma lata vazia ou a merendeira do seu irmão menor, que sairá correndo para se queixar em casa. No  caso de se usar uma pedra, lata ou outro objeto contundente, recomenda-se jogar de sapatos. De preferência os  novos,  do  colégio.  Quem  jogar  descalço deve  cuidar  para  chutar sempre com aquela unha do dedão que estava precisando ser aparada mesmo. Também é permitido o uso de frutas ou legumes em vez da bola, recomendando-se nestes casos a laranja, a maça, o chuchu e a pêra. Desaconselha-se o uso de tomates, melancias e, claro, ovos. O abacaxi pode ser utilizado, mas aí ninguém quer ficar no golo.

DAS GOLEIRAS 

As goleiras podem ser feitas com, literalmente, o que estiver à mão. Tijolos, paralelepípedos, camisas emboladas, os livros da escola, a merendeira do seu irmão menor, e até o seu irmão  menor, apesar  dos seus  protestos.  Quando o  jogo é importante,  recomenda-se  o  uso de latas  de lixo. Cheias,  para agüentarem  o impacto.  A distância regulamentar  entre uma goleira e outra dependerá de discussão prévia entre os jogadores. Às vezes esta discussão demora tanto que quando a distância fica acertada está na hora de ir jantar. Lata de lixo virada é meio golo.

DO  CAMPO 

O campo pode ser só até o fio da  calçada,  calçada e  rua, calçada, rua e a calçada do outro lado e – nos clássicos – o quarteirão inteiro. O mais comum é jogar-se só no meio da rua.

DA DURAÇÃO DO  JOGO 

Até a  mãe  chamar  ou escurecer,  o que  vier primeiro. Nos jogos noturnos, até alguém da vizinhança ameaçar chamar a polícia.

DA FORMAÇÃO DOS TIMES

O número de jogadores em cada equipe varia, de um  a 70 para cada lado. Algumas convenções  devem ser respeitadas.  Ruim vai para o golo. Perneta  joga  na  ponta, a esquerda ou a direita dependendo da perna que faltar. De óculos é meia-armador, para evitar os choques. Gordo é beque.

DO JUIZ 

Não tem juiz.

DAS INTERRUPÇÕES 

No futebol de rua, a partida  só pode ser  paralisada numa destas eventualidades:

a) Se a bola for para baixo de um carro estacionado e ninguém conseguir tirá-la. Mande o seu irmão menor.

b) Se a bola entrar por uma janela. Neste caso os jogadores devem esperar não mais de 10  minutos pela devolução voluntária da bola. Se isto  não ocorrer, os jogadores devem designar  voluntários para bater  na porta da casa ou apartamento e  solicitar  a devolução,  primeiro  com bons  modos  e depois  com ameaças de depredação.  Se o apartamento ou casa for de militar  reformado com cachorro, deve-se providenciar outra bola.

Se a janela atravessada pela  bola estiver  com o vidro fechado na ocasião,  os  dois times devem reunir-se rapidamente para deliberar o que fazer. A alguns quarteirões de distância.

c) Quando passarem pela calçada:

1) Pessoas idosas ou com defeitos físicos.
2) Senhoras grávidas ou com crianças de colo.
3) Aquele mulherão do 701 que nunca usa sutiã.

Se o jogo estiver  empate em  20 a 20 e quase no fim, esta regra pode ser ignorada e se alguém estiver no caminho do time atacante, azar. Ninguém mandou invadir o campo.

d) Quando passarem veículos pesados pela rua. De ônibus para cima. Bicicletas e Volkswagen, por exemplo, podem ser chutados junto com a bola e se entrar é golo.

DAS SUBSTITUIÇÕES  

Só são permitidas substituições:

a) No  caso de um jogador  ser carregado para  casa pela orelha para  fazer  a lição.

b) Em caso de atropelamento.

DO INTERVALO PARA DESCANSO 

Você deve estar brincando.

DA TÁTICA– 

Joga-se o futebol de  rua  mais  ou  menos como o Futebol de Verdade  (que é como, na  rua, com reverência,  chamam  a  pelada),  mas com  algumas importantes variações. O goleiro só é intocável dentro da sua casa, para onde fugiu gritando por socorro.  É permitido entrar  na área adversária  tabelando com  uma  Kombi. Se a bola dobrar a esquina é córner. 

DAS  PENALIDADES 

A única falta prevista nas  regras  do futebol de rua é atirar  um  adversário dentro do bueiro.  É  considerada atitude antiesportiva e punida  com tiro indireto.

DA JUSTIÇA ESPORTIVA 

Os casos de litígio serão resolvidos no tapa.


Fonte: Luís Fernando Veríssimo

3 comentários:

  1. JÁ QUE O BLOG ESTA SEM NOTICIAS. AFINAL DE CONTAS ESTÃO SEM TIME. SEM CAMPEONATO PRA DISPUTAR E SEM NADA O QUE DIZER, PQ VCS CRIADORES DO BLOG DO VERDÃO SEGUNDONA NÃO FALAM DO 4 MELHOR TIME DE MINAS GERAIS..O BOA ...QUE ALIAS TA NA SEGUNDONA DO BRASILEIRO...E VCS ESTAO DORMINDO...INAUGURAR CT E CAMPO NOVO NÃO VALE ND SE VCS NÃO TEM TIME....

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  2. Kleber19, o CANAL UEC agradece a sua audiência, do pessoal de Ituiutaba e de Varginha, o que ficamos muito felizes. Lamentamos muito a cidade de Ituiutaba perder o seu time e a de Varginha ficar na expectativa de perder logo também. Não deve ser fácil a vida de vocês. Torcemos para um clube, que mesmo mal das pernas, sabemos que é enraizado em Uberlândia, ao contrário de times viajantes, de empresários, que vão para onde pagam mais.

    Saudações alviverdes, o único time mineiro do interior campeão brasileiro !!!

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  3. kleber 19"... se tens 19 anos, provavelmente o sr. pense que o neimar é o melhor jogador de todos os tempos e que a vida se resume a um playstation e um celular do momento.

    brincadeira, é claro. O Kléber 19, assim como uma leva incontável de alienados, pensa que o que vale é "um time na 1ª" ou mesmo, acreditem, "um time campeão".

    desculpe-me, jovem, mas não é bem por aí. Olhe para o seu pai ou para o seu avô e me diga se o que vale, mesmo, é o presente. (nada pessoal, é claro)

    Olhe para sua professora do pré (nem sei se hoje em dia ainda existe pré) ou imagine o seu professor do doutoramento no futuro e diga, não para mim ou para si mesmo, se o que vale mesmo hoje é o presente.

    Olhe para o seu emprego de R$ 600 (ou um pouco mais que o sr. deva ganhar) que é mil vezes o que você ganhava até ontem e será, provavelmente, cem vezes menos o que você vai ganhar amanhã e me diga, sinceramente, se o que vale MESMO, hoje, seja só o presente...

    o homem, de verdade, tem de ter essa consciência das coisas. Do presente (lógico, você tem razão), mas também do passado e do futuro. Pense nisso. Se não pensas, continuarás um moleque.

    abraços verdes,

    luiz martins.

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