quarta-feira, 18 de maio de 2011

Futebol como fenômeno estético e cultural

O futebol desperta grande controvérsia nos meios intelectualizados do país quanto ao seu caráter, ainda hoje. Recentemente, numa palestra dentro da PUC-SP, uma citação de um importante escritor brasileiro contemporâneo afirmava que o futebol não poderia ser considerado um fenômeno estético como o cinema, o teatro, a literatura, a música ou a dança.

A idéia do futebol como o ópio do povo não é mais levada a sério, mas os esportes como um todo, o futebol em particular, estão longe de serem considerados expressões estéticas e culturais legítimas das sociedades contemporâneas.

O prazer gerado pelo futebol nos seus aficionados pode ser diferenciado do prazer gerado pela leitura de um belo livro? Os dribles e jogadas dos grandes jogadores podem ser considerados lampejos de genialidade artística? O que separa a obra de um artista como Pablo Picasso das jogadas do Pelé? Como definir qual o melhor jogador ou a melhor jogada elaborada num campo de futebol?

As respostas destas questões são difíceis. Primeiro porque a tensão proporcionada por uma partida de futebol está presente na leitura de bons livros, em bons filmes e peças teatrais. Falta-me domínio suficiente nesta área, na medida em que não sou músico, mas tenho a impressão (como ouvinte) que toda música que escuto tem um clímax, um momento de tensão. Pode durar alguns segundos (enquanto no futebol dura minutos), mas está presente e é como se a música fosse crescendo até seu momento ápice (muitas vezes o refrão).

Se não posso definir as pedaladas do Robinho como passos de dança, posso dizer que se aproximam e se assemelham. Seu corpo ginga de um lado para o outro e cria um mistério sobre sua próxima ação, iludindo seu marcador sobre o caminho que seguirá na condução da bola. Oras, isto não está presente na capoeira e no samba?

Dizer qual o melhor jogador é como definir qual pintor ou quadro é o seu predileto. Isto implica dizer que se trata de uma escolha subjetiva, sem qualquer possibilidade de comparação objetiva. Todos temos lembranças afetivas de jogadas, gols e jogadores que condicionam nossas escolhas sobre qual a mais bela jogada ou o melhor jogador.

Por fim, negar a beleza do futebol me parece negar a beleza de outras expressões estéticas como a música ou o teatro. Passa pelo mesmo critério subjetivo anterior. A pessoa tem todo o direito de não gostar de futebol (como tem de não gostar de música, cinema, literatura ou teatro). Trata-se de gosto pessoal, mas negar-lhe o status de fenômeno cultural e estético me parece complicado. Que o prazer de assistir uma bela partida de futebol seja considerado tão legítimo quanto aquele de assistir um filme ou ler um livro.

Fonte: texto de João Paulo Streapco é historiador e participante do GIEF (Grupo Interdisciplinar de Estudos sobre Futebol). Matéria obtida no blog Ludopédio

Um comentário:

  1. Não concordo com o conteúdo apresentado. Embora muito bem escrito, faz inferências equivocadas ao tentar comparar arte e desporto. São dois planos distintos, incomensuráveis na verdade. A justificativa de porque discordo dos argumentos demandaria excessivo espaço e rigor intelectual, coisas de que não disponho aqui e agora.

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