domingo, 6 de novembro de 2011

Timemania não é pesquisa

Achei interessante o que ele demonstra, vale a pena conferir.

Texto retirado do blog "Teoria dos jogos", por Vinícius Paiva. Confira:

"Um dos argumentos mais comuns entre os desacreditados em pesquisas é o de que existiriam diversas maneiras de mensurar torcidas de forma mais confiável. Para estes, a Timemania é considerada a grande “desmistificadora de pesquisas”. Atendendo a pedidos, resolvi embarcar no debate. Chegando à conclusão de que é a Timemania quem precisa ser desmistificada.

Não, amigos. A Timemania não serve como pesquisa. Por três motivos:

1) Pesquisas são instrumentos baseados em técnicas de coletas de dados em campo, que se utilizam do rigor estatístico para o processamento e interpretação destes dados. Foram necessários anos de desenvolvimento de processos matemáticos para aprimorar suas metodologias.

Já loterias são loterias: meros jogos de azar que consistem no sorteio de números em troca de prêmios. No caso da Timemania, trata-se de uma loteria federal criada com intuito de explorar a marca dos clubes de futebol, utilizando parte do faturamento para abater a dívida fiscal dos mesmos perante a União.

A distinção entre uma coisa e outra é tão óbvia que não faz sentido insistir em considerar elementos de natureza tão distinta como substitutos.

2) Loterias possuem uma particularidade que enviesa a utilização da Timemania como pesquisa de torcidas: a “surpresinha”. Trata-se da prerrogativa de não se preencher número algum – deixando ao computador a incumbência de fazê-lo, aleatoriamente. Assim, a escolha do “time do coração” – aquilo que mensura a participação de cada torcida – é fortemente influenciada por esse elemento. Isto explicaria a torcida do Flamengo apenas dez vezes superior à do Ypiranga/AP. Ou a Fiel corintiana apenas cinco vezes maior do que a torcida da Portuguesa de Desportos.

3) Alguns clubes são mais empenhados na “causa” da Timemania do que outros. Sendo assim, incentivam seus torcedores a apostarem por meio de banners no site oficial ou campanhas no estádio, em dia de jogo. De fato, com tão pouca diferença entre os de maior e os de menor torcida, gera-se um incentivo aos pequenos – a quitação de seus débitos perante o governo seria relativamente “mais fácil”. Clubes de dívida multimilionária teriam um caminho ardiloso demais pela frente – até pelo fracasso da loteria, que arrecadou bem menos do que o planejado.

Sempre tive os três elementos em mente ao refutar a Timemania como método de mensuração de massas. E a certeza foi sacramentada quando recebi resposta da assessoria de imprensa da Caixa – a respeito deste e de outros questionamentos:

Teoria dos Jogos: Qual seria a explicação para a contínua redução – ano após ano – no percentual dos clubes de maior torcida?

Caixa Econômica Federal (imprensa.loterias@caixa.gov.br): As variações anuais nos percentuais de participação dos grandes clubes na preferência dos apostadores da Timemania, como clube do coração, não são significativas. Clubes como Santos, Botafogo, Fluminense e Bahia tiveram incremento de participação de um período para outro (vide quadro abaixo). Ressalta-se que existem outras 68 agremiações nos volantes, muitas das quais fazem campanhas para permanecerem ou acessarem os grupos que oferecem maior percentual de participação no repasse (grupo A e B), são feitas ações locais de divulgação e incentivo, como desconto em ingressos e sorteios de camisas para quem aposta indicando o clube como Time do Coração, o que tende a aumentar a participação desses clubes na loteria. Destaca-se aumento de 40,7% na arrecadação do produto comparando-se o período de jan a set (2011 x 2010).



TJ: A prerrogativa da “surpresinha” – em que números são escolhidos aleatoriamente – se aplica ao “clube do coração”, aproximando os percentuais de clubes grandes e pequenos?

CEF: Em função da probabilidade de 1/80 para “time do coração”, a aposta efetuada como “surpresinha” permite que os clubes menos representativos também sejam indicados.

TJ: Em caso positivo, que percentual dos apostadores se utilizam da “surpresinha”?

CEF: Atualmente cerca de 30% das apostas dos prognósticos da Timemania são no modo surpresinha, porém não há como precisar o quanto das escolhas do time do coração se dão pelo modo surpresinha.

TJ: Em que patamar se encontra a arrecadação da loteria? Isto reduz a dívida dos clubes em que medida?

CEF: Informamos abaixo os valores arrecadados pela Timemania. Quanto maior a arrecadação dos concursos, maior será o valor destinado aos clubes e maior será a redução do valor da dívida deles.

Jan/2011 – R$ 7.573.070,00
Fev/2011 – R$ 9.656.144,00
Mar/2011 – R$ 13.266.226,00
Abr/2011 – R$ 13.813.298,00
Mai/2011 – R$ 9.185.848,00
Jun/2011 – R$ 11.660.722,00
Jul/2011 – R$ 18.244.000,00
Ago/2011- R$ 23.264.100,00
Set/2011 - R$ 9.152.418,00.

Em suma: a Timemania é extremamente volátil de acordo com a campanha ou o engajamento dos clubes e de seus seguidores. De vez em quando, a arrecadação se eleva substancialmente – como no mês de agosto – o que é incapaz de descontinuar a queda anual das agremiações de maior torcida. E nada menos que 30% das apostas são feitas no modo aleatorio, modificando sobremaneira o ranqueamento entre clubes. Estas características nos levam a concluir que a Timemania pode não estar desenganada como modalidade de jogo de azar. Mas passa longe de ser um sucesso ao fazer as vezes de instituto de pesquisa.

Um grande abraço e saudações!"

E-mail da coluna: teoriadosjogos@globo.com

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