domingo, 17 de abril de 2016

O aniversário do Agenor

Foto do Verdão na década de 50
Por Antonio Pereira (*)

Foi num dia desses aí pra trás. Nasceu em Uberaba, mas veio novinho pra cá e se tornou um valioso cidadão. Filho do primeiro agente dos Correios da cidade, o Justiniano. Trabalhou, cresceu, ganhou status e grana, ajudou muita gente. Todos os empreendimentos sociais e econômicos da cidade tiveram sua participação ativa. Foi vereador “coió”. Montou um jornal, “A Reação” – de vida curta. Foi boiadeiro, empresário bem-sucedido.

Gostava de futebol, torcedor, como todo uberabinhense, da Associação Esportiva Uberabinha, que era time do partido cocão. Treinava e jogava no estádio construído pelo Joanico (prefeito) no quintal do seu tio, coronel Virgílio Rodrigues da Cunha. Nos jogos da Esportiva, que era o principal time da cidade, tocavam as bandas “cocão” e “coió” alternadamente, até que um dia, arbitrariamente, Adolfo Fonseca colocou a banda “cocão” para tocar em dia da banda “coió”. Agenor foi tirar satisfação e Adolfinho respondeu-lhe: “O campo é nosso, o time é nosso e quem vai tocar é a nossa banda”. Pronto, acabou. Agenor, indignado, saiu do estádio acompanhado pelos outros torcedores “coió”. Resolveram criar outro time na cidade e subiram pouco pra cima dos trilhos da Mogiana, cuja estação ficava onde está a praça Sérgio Pacheco. Pra lá dos trilhos, era tudo terra do Gil Alves dos Santos, também “coió”. Separaram área, 100x150m, e compraram do Gil por um conto de réis.

Agenor providenciou reunião com seus amigos, 11, que fundaram o Uberabinha Sport Club e elegeram a primeira diretoria, encabeçada pelo Tito Teixeira. Enquanto essa diretoria não fazia nada, nem posse tomava, Agenor cuidava de arregimentar amigos e correligionários para deixar a área comprada em condições da prática do jogo. Américo Zardo, construtor, depois do expediente, subia com seus peões para ajudar o time. E o Agenor enfiava a mão no bolso, pagava destocamentos, peões, abertura de alicerces para o muro, pagava vagões de tijolos que vinham de Araguari, cal, areia. Esses documentos eu vi e foram mostrados ao jornal “O Triângulo”, com matéria publicada a respeito na edição de 24 de julho de 1971. E o Juca Ribeiro cuidava do time, marcava jogos.

Sete meses depois de eleita a primeira diretoria, Agenor, que já tinha colocado o estádio em condições de treino e jogo, em junho de 1923, reuniu sua gente e fez nova eleição. Ninguém cuidava da parte administrativa do time. Foi eleito presidente. No dia seguinte foi registrar a compra do terreno em cartório, tirou cópia da escritura, fez (ou mandou fazer) o Estatuto do time e, quatro dias depois, fez nova reunião onde se aprovou o Estatuto.

Quando foi a 4 de julho de 1923, o Uberabinha Sport Club fez seu primeiro jogo no estádio construído por ele. Jogou contra o Americano, daqui de Uberabinha mesmo. Um a um. O primeiro gol marcado foi de Américo, do Americano, no primeiro tempo. Em 1928, Agenor reuniu de novo os torcedores do USC e elegeu a terceira diretoria comandada por Henrique de Castro. Agenor – presidente de honra. E daí pra cá, as coisas vieram nos conformes administrativos e esportivos.

O Uberlândia Esporte Clube, no último dia 1º de novembro, fez seus 90 anos. No mesmo dia, se fosse vivo, Agenor Bino faria 135 anos. Salve primeiro de novembro: aniversário de criador e criatura. Acaso? ou o Agenor se fez, a si próprio, um presente imorredouro e cheio de glória?

(*) Antonio Pereira é escritor e colunista do Jornal Correio

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