domingo, 3 de junho de 2012

Uberabinha vs. Morrinhos

Em 1927, os técnicos dos times de Morrinhos e de Uberabinha contrataram um jogo que seria realizado aqui. Naquele tempo, eram os técnicos que cuidavam disso. Foi uma declaração de guerra: Minas contra Goiás. Os ânimos pegaram fogo. Como era costume, Morrinhos saiu catando atletas por aí. Pegou, em Araguari, o melhor zagueiro do Triângulo, o Acrísio. Do Botafogo de Ribeirão Preto levou o center-half Odilon. Segundo Athayde Ribeiro, Odilon e o nosso Catanduva eram os melhores centros médios do Brasil Central. 

O presidente do UEC era o Henrique de Castro, criador do carnaval de rua de Uberlândia. Ele era sócio do Palestra Itália (Palmeiras). Foi a São Paulo e “laçou” Feitiço, Ministrinho, Miguel e Loschiavo. Feitiço era um excepcional meia esquerda. Antes do Pelé, foi ele o artilheiro que mais gols fez no campeonato paulista. Fez 39 no campeonato de 1931. Ministrinho era ponta direita, um dos melhores do país. Jogou na Juventus, da Itália, e tinha só um 1,60 m. Driblava, centrava, chutava em gol, tudo com uma elegância admirável. Loschiavo era half direito (lateral) e Miguel era beque. Deram brilho extra ao jogo. O jogo transcorreu como se esperava. O Uberabinha ganhou de 3 a 1 (dizia um craque da época, o Ramirinho Pedrosa, que foi 5). O nosso primeiro gol foi marcado pelo Chapa, um negrão alto e forte, de Ribeirão Preto, que não era enxerto. Ele jogava no UEC. Athayde Ribeiro, meu informante, molecote na época, me contou que, no intervalo, o público invadiu o campo para cumprimentar, conversar com os atletas (era costume). Enfiando-se pelo meio do povo, a certa altura, ouviu Odilon, enxerto buscado em Ribeirão Preto pelo Morrinhos, dizer para outro enxerto da mesma origem: “Que Feitiço, que nada! Jogador deles é o Chapa. Esse é que é!” Feitiço também fez o seu, de cabeça. Dizem que muito lindo.

E esse Chapa devia ser muito bom mesmo, o Botafogo de Ribeirão Preto aprontou uma para cima do UEC por causa dele. O Botafogo convidou o UEC para jogar lá. Um convite estranho. Naquele tempo, os times pequenos é que chamavam os times grandes, porque atraiam público. O Botafogo era uma tradição no futebol do interior paulista. Honrado por isso, o Uberabinha aceitou e foi. Infelizmente, não sei dar o resultado do jogo, mas, não devemos ter vencido. O que importa no caso desta crônica, é que, depois do jogo, quando a comitiva de Uberabinha se reuniu para voltar, cadê o Chapa? Tinha sumido. Procura daqui, procura dali, nada. Cansados, desistiram da procura e o time voltou sem o seu grande atleta, que simplesmente tinha sido raptado pelo Botafogo, logo depois do jogo, e ficou por lá.

Fontes: Athayde Ribeiro e Ramiro Pedrosa
Fonte: Jornal Correio (coluna Crônica da Cidade - Antônio Pereira)

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